20 de jul. de 2011

20 de julho: Dia do Amigo-A importância da amizade na velhice

Um sinal de bem estar na velhice é a presença de amigos e para celebrar o Dia do Amigo, selecionei este texto que achei bem interessante.

Um bom amigo para uma boa velhice

A amizade ajuda aos mais velhos "atendendo-lhes as necessidades e suprindo as atividades que declinam por efeito dos anos", diz Aristóteles. Sócrates declara no Lísis , de Platão, que em toda a sua vida, sempre teve um ardente desejo de amizade, mais que qualquer outra coisa no mundo. Talvez lá, já vislumbrasse o que várias correntes, da antropologia à psicologia, constatam agora: a tese de que ter bons amigos pode prolongar a vida.

Pesquisas apontam a amizade como fator determinante para a longevidade: quanto mais amigos, mais chances de uma vida longa e feliz. É crescente o coro dos que acreditam que um amigo pode fazer a diferença no mundo. E a amizade ajuda não apenas a viver mais, como a viver melhor. Quanto mais amigos, mais chances de chegarmos à velhice sem problemas físicos e com maior capacidade de adaptação e aceitação das dificuldades inerentes ao envelhecer. Do contrário, pessoas que não têm amigos, são mais vulneráveis a doenças.

A amizade pode conter em si a síntese do que é essencial em qualquer tempo: movimentar-se em direção ao outro e a si mesmo, exercitar o afeto, aceitar as diferenças, tolerar, trocar experiência, refletir acerca do que somos e do nosso papel. É a chance da (re)descobrir o que há de mais humano em cada um. É estar aberto às possibilidades e ao exercício da liberdade. Própria e do outro.

Onde mais será permitido olhar, perguntar, fazer gestos além do corpo, questionar tabus, ler, discutir o trágico da vida e o que ela tem de sublime, divertir-se, brincar, enxergar além do curto alcance do olhar? Assumir as diferenças e aceitar o novo, o estranho?

Onde mais dividir a experiência de envelhecer na sociedade e nas circunstâncias atuais, que envolvem além de saúde, doença e medo de morrer, temas como aposentadoria, retorno às salas de aula, realização de sonhos antigos, novos amores, relações familiares, diferenças de gênero, imposições e pressões sociais e culturais, perdas e recomeços necessários, saída dos filhos de casa, viuvez, institucionalização? Onde mais a vida pode ser profícua?

O amigo é um amparo na medida em compreendemos que viver, abrir espaço para o outro, cuidar, participar é o que importa.

Todavia, se encontrar um amigo na juventude é tarefa árdua e para a qual não somos preparados, que dirá na velhice, quando recolhimento e isolamento muitas vezes se impõem, encapsulados que vivem os velhos, e a amizade somente frutifica no contato, na sociabilidade?

Podemos conceber alternativas. A inserção do velho nos círculos sociais é condição primeira para o alívio dos males que o afetam e que o adoecem. Ao lhe dar permissão para falar, para expressar sentimentos e afetos, para trazer à tona suas reminiscências, aprendemos, fundamentalmente.

Por ter o que contar, pela tendência a revisitar o passado, a memória do velho alarga os horizontes da cultura, diz Bosi. É pela densidade biográfica que ele se diferencia dos mais jovens e no que contribui para as gerações futuras. Os velhos assumem, assim, uma nova função social, qual seja a de lembrar e contar para as gerações mais jovens, as suas experiências, seus aprendizados, suas origens. Tornam-se a memória da família, do grupo, da sociedade.

Os grupos formados por pessoas da mesma faixa etária e os que promovem as trocas intergeracionais são exemplos de iniciativas que se proliferam e que tornam o desfrutar da companhia de outros um prazer. O acolhimento do grupo pode ser determinante a assimilação de novas atitudes, melhora a percepção do velho sobre si mesmo.

Ajudam também a fortalecer laços e a desfazer estereótipos. Pelo contato com pessoas mais velhas, os jovens desenvolvem espírito mais solidário. Para os velhos, a contrapartida é sentirem-se úteis e valorizados, mais confiantes. Ambos podem ser surpreendidos pela possibilidade da troca de afeto com pessoas de outra geração, fora do círculo familiar.

Nos grupos intergeracionais em particular, as relações de amizade não são firmadas por semelhanças ou identificações. É a partir das diferenças que elas se fortalecem ao permitir, para além da artificialidade, que a história de cada um seja preservada no ato de acolher o outro.

Contradições e incertezas estarão sempre presentes, cabe aos homens encontrarem caminhos e alternativas que viabilizam a expansão do conhecimento e do saber com vista à promoção e ao bem estar social de todos, além da construção de um mundo mais justo, humano e criativo (Novaes, 1999, p.37).

Se a existência é mais rica, mais plena e verdadeira na exata medida em que mais se conhece, é preponderante assumir e buscar uma ação possível, que estimule mudanças de comportamentos, conceitos, valores, ideais e práticas sociais. Que leve à compreensão do que nos circunda para além do consumismo, do individualismo, do círculo carência/satisfação e frustração crônica que nos envolve e define. Que nos afaste da imediaticidade da vida e reforce nossa capacidade de comunhão com a realidade.

Cabe à sociedade, à família lutar para que o bem-estar dessa vida mais longa possa ser maior e tornar o ambiente mais acolhedor, caloroso, afetuoso.

Por Maria da Luz Miranda 17/08/2006
O texto faz parte da monografia "Amizade na velhice", fruto do projeto de especialização em Filosofia Contemporânea pela PUC-RJ.

Reflexão: será que você sabe cultivar as amizades como deveria?

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