Suzana Aparecida Rocha Medeiros, ou simplesmente profa. Suzana, como a maioria dos alunos se refere a ela, completa 85 anos em outubro.
É um exemplo de velhice bem sucedida!!!
Suzana foi minha professora no mestrado e adorava assistir suas aulas, pois além de ter muito conhecimento na área da Gerontologia, ela está vivenciando a velhice, mas de uma forma exemplar.
Formada em Serviço Social, mestre e doutora na área, Suzana foi responsável pela implantação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia na PUCSP, que teve início em 1997. Atualmente ministra duas disciplinas na Gerontologia, orienta alunos e coordena alguns Nepes (Núcleos de Estudo e Pesquisa sobre Envelhecimento), além de participar de grupos de pesquisas.
Deu uma entrevista muito interessante que foi publicada no Portal do Envelhecimento da PUC no mês de julho.
Suzana nos surpreende, especialmente, por sua vitalidade, qualidade que já foi bastante enaltecida em textos na PUC, no próprio Portal e em homenagens que os alunos e outros professores lhe rendem com frequência. Mas o fato é que é difícil não se encantar com a alegria de viver da profa. Suzana, ela é bem humorada e sempre está disponível para atender os alunos, antes, durante a após as aulas.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
P- Desde quando a senhora está na PUC?
R- Cheguei aqui em 1964. Eram tempos duros. Vim para pensar o Serviço Social. Fazíamos reuniões, por causa da ditadura, com as janelas fechadas, mas os portões da escola sempre ficavam abertos. Essa forma de acolher me chamava atenção. E na época, muita gente achava que o Serviço Social não iria para frente. Fiz muitas reuniões em Brasília, com a Capes, e hoje temos um curso muito reconhecido, tanto na graduação como na pós. E foi no Serviço Social que eu percebi que o tema do envelhecimento precisava ser discutido.
P- Como foi isso?
R- Os alunos do Serviço Social faziam muitos trabalhos sobre o envelhecimento. Percebi que as questões da longevidade estavam exigindo outro tipo de reflexão, mais complexa. Quando cheguei em Brasília com a proposta do curso de Gerontologia, ouvi de muita gente que era para deixar os velhos sozinhos, pois eles estavam tão bem quietinhos em seu canto (risos). Mas a experiência tem mostrado o contrário... Bem, o máximo que conseguia era gente que dizia pra Gerontologia se tornar uma disciplina do Serviço Social.
P- Como a senhora avalia hoje, o mestrado em Gerontologia da PUC hoje?
R- Acho muito bom, pois temos uma série de professores de áreas diferentes, formulando conhecimentos novos. Isso é interdisciplinaridade: visões diversas sobre uma mesma problemática. As diferenças, no nosso curso, incentivam a discussão.
P- O que a senhora pensa em relação ao curso quando olha para o futuro?
R- Vejo que há muitas possibilidades de crescimento. Nossos professores são constantemente chamados para palestras. Há indícios de que é uma área em expansão, as instituições nos procuram, somos referência no tema.
P- Acha que há um campo promissor para os alunos que saem mestres?
R- Sim, claro, muitos alunos que vêm para cá já trabalham com idosos. Mas querem se aprofundar, se preparar melhor para isso. E também preparar melhor as pessoas que lidam com isso numa outra esfera.
P- Pode explicar melhor?
R- É preciso formar pessoas competentes para pesquisas sobre envelhecimento, para ministrar aulas também. E hoje há demanda em vários níveis. Por exemplo, precisamos de gente que promova excelentes cursos de acompanhantes de idosos. E várias outras coisas neste sentido. Há muitos serviços necessários a esta população, pois o Brasil está envelhecendo.
P- Hoje, quando a senhora olha para trás, o que pensa?
R- Que o meu pensamento inicial sobre a Gerontologia estava certo... rsrs... A novidade que trazemos em relação à velhice está em tratar o envelhecimento como uma etapa a mais da vida e não como a etapa final. A morte pode ocorrer em qualquer etapa da vida. Não é exclusiva da velhice.
P- E como a senhora vive esta etapa?
R- Pois então, eu mesma que estou vivendo isso acho muito interessante. Estou realizando hoje coisas que não tinha feito antes e acho que ainda podem aparecer muitas outras. Mas gosto de dizer que não acho esta a melhor etapa. Não sei qual é a melhor, se existe. Acho que não. A vida é constituída por momentos cheios de prazer, em todas as etapas, e também pelos muito tristes, chatos.
P- Como é a sua vida hoje?
R- Ora, eu trabalho, o que me dá muito prazer. Saio com amigos, família. Gosto muito de cinema, mas vejo mais em casa, por facilidade. Confesso que tenho certo medo de sair à noite na cidade, por causa da violência. Torço para o Santos, acompanho os jogos, gosto muito de futebol. Sabe, aproveito melhor meu tempo hoje, eu acho. Não perco muito tempo com coisas desnecessárias.
P- Como assim?
R- Acho que a vida é feita de momentos e a sabedoria consiste em saber reconhecer os momentos especiais, não deixar passar em branco. Isso só se aprende com os anos. Acho fundamental a gente perceber quando estamos vivendo um bom momento em nossa vida e saber aproveitar bem isso.
P- Acho que todo mundo tem um pouco de curiosidade de saber qual o seu segredo para ter essa vitalidade toda... como é sua alimentação?
R- Ah, eu como pouco ... quer dizer, almoço bem, como de tudo, evito gordura, açúcar. Penso na cintura... rsrs... Gosto de frutas, verduras. Sou louca por café também, mas evito álcool. Também não janto, tomo só uma sopa e já está bom.
P- Além da vitalidade, a senhora chama atenção pela tranquilidade... de novo, qual o segredo?
R- Ah, eu só acho que muita gente que envelhece assume uma postura, a respeito da velhice, construída por quem não envelheceu ainda... aquela ideia de que todo velho é rabugento, não aprende, não quer nada com nada... Isso é que é preciso mudar. Precisamos fazer os velhos acreditarem que eles podem ter outras possibilidades nesta etapa da vida, sair desses estereótipos. E nisso a Gerontologia tem dado sua contribuição.
Por Maria Lígia Mathias Pagenotto-Jornalista, mestranda em Gerontologia pela PUCSP. É colaboradora e faz parte da Equipe Portal.
Diretamente para o Portal
Para conferir esta entrevista na íntegra acesse:http://www.portaldoenvelhecimento.net/entrevistas/entrevistas103.htm
2 comentários:
Esse é o grande exemplo de que estar mais "velho" não é sinónimo e inutilidade.
Veja só Cristina, a gente no corre corre, só vai descobrir as coisas através do Google! Eu já sabia do seu Blog, mas sempre deixava para acessá-lo "depois", como faço com um monte de coisas... Aí hoje fui fazer uma pesquisa sobre a Profa. Suzana e este é o primeiro texto que acessei. Parabéns! Muito legal seu Blog, serei seguidora. Eu e Karen também estamos começando um, mas é TOTALMENTE diferente. Como a gente aprende que tem que ser, na Geronto, né? Aos poucos quero ler as outras postagens. Um forte abraço e parabéns de novo. Marcia.
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