Chegar aos 100 anos de idade, com saúde, como a D. Ina (foto ao lado), não é fácil. A façanha foi alcançada por apenas 24.236 brasileiros, o equivalente a 0,012 % da população. Mas entender os mecanismos que determinam essa longevidade também é tarefa árdua.
Um mapeamento inédito do Censo Demográfico, tabulado pelo Estado, revela um cenário que intrigou até técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): ao invés de se concentrarem nas regiões mais desenvolvidas e com melhor acesso à saúde, os centenários brasileiros estão nas regiões mais pobres.
Esse padrão é quase o oposto do que acontece com os idosos de maneira geral. Um exemplo de como renda ou índices sociais não determinam a concentração de pessoas com mais de 100 anos é a Bahia. Apesar de estar em quarto lugar no ranking de população absoluta, o Estado nordestino é o líder em número de centenários, a maioria deles concentrada em cidades do interior. São 3.578 pessoas com mais de 100 anos, número quase 10% superior ao encontrado em São Paulo - que tem população três vezes maior e o dobro da renda per capita.
Proporcionalmente, o Estado com o maior número de centenários é o Amapá, no Norte. Ele é o segundo pior em termos de saneamento básico - apenas 6,67% dos domicílios têm rede de esgoto - e está longe da lista dos mais ricos, mas, mesmo assim, apresenta uma média de 26,7 centenários por cada 100 mil habitantes, mais que o triplo registrado em São Paulo, o mais rico e com melhor saneamento. As outras maiores concentrações estão no Nordeste: Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Alagoas e Ceará.
Outro dado que surpreendeu especialistas foi a diminuição no número de centenários no País, em contraste com o aumento ininterrupto da expectativa de vida do número de idosos de maneira geral. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2007 estimou haveria 45,4 mil centenários no ano passado, quase o dobro do registrado em 2000. A variação, no entanto, foi ligeiramente negativa - existem hoje 340 centenários a menos que no início deste século, uma queda de 1,5%. Enquanto isso, o número de idosos com mais de 65 anos explodiu, passando de 9,9 milhões para 14 milhões (41% de aumento).
Interrogações. Enquanto a explicação para o aumento da população idosa passa pela melhora dos serviços de saúde, índices sociais e de renda, a presença dos centenários exige um esforço maior. Em geral, estilo de vida, alimentação e ausência das agruras das grandes cidades são fatores que melhor explicam os números. O médico Alexandre Kalache, um dos maiores especialistas em longevidade do País, explica que viver em grandes centros urbanos, mesmo com conforto e acesso a bens materiais, pode ser mais prejudicial que levar uma vida simples, pobre - “não miserável” - em áreas isoladas ou rurais.
“Quem tem uma vida modesta possui menos dinheiro para fumar, para beber, come de forma razoavelmente simples, pouco e bem, sem excessos de gordura, por exemplo. No campo, ainda faz mais atividade físicas”, diz Kalache, consultor sênior da Academia de Medicina de Nova York e ex-chefe do Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo ele, os problemas do cotidiano das cidades custam caro a quem pretende completar uma centena de anos - além da violência urbana, contam negativamente o trânsito, o estresse e a poluição. “Não é só o estresse acumulado, mas também o tipo de estresse e a forma como as pessoas respondem a ele”, afirma o especialista.
Esse padrão é quase o oposto do que acontece com os idosos de maneira geral. Um exemplo de como renda ou índices sociais não determinam a concentração de pessoas com mais de 100 anos é a Bahia. Apesar de estar em quarto lugar no ranking de população absoluta, o Estado nordestino é o líder em número de centenários, a maioria deles concentrada em cidades do interior. São 3.578 pessoas com mais de 100 anos, número quase 10% superior ao encontrado em São Paulo - que tem população três vezes maior e o dobro da renda per capita.
Proporcionalmente, o Estado com o maior número de centenários é o Amapá, no Norte. Ele é o segundo pior em termos de saneamento básico - apenas 6,67% dos domicílios têm rede de esgoto - e está longe da lista dos mais ricos, mas, mesmo assim, apresenta uma média de 26,7 centenários por cada 100 mil habitantes, mais que o triplo registrado em São Paulo, o mais rico e com melhor saneamento. As outras maiores concentrações estão no Nordeste: Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Alagoas e Ceará.
Outro dado que surpreendeu especialistas foi a diminuição no número de centenários no País, em contraste com o aumento ininterrupto da expectativa de vida do número de idosos de maneira geral. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2007 estimou haveria 45,4 mil centenários no ano passado, quase o dobro do registrado em 2000. A variação, no entanto, foi ligeiramente negativa - existem hoje 340 centenários a menos que no início deste século, uma queda de 1,5%. Enquanto isso, o número de idosos com mais de 65 anos explodiu, passando de 9,9 milhões para 14 milhões (41% de aumento).
Interrogações. Enquanto a explicação para o aumento da população idosa passa pela melhora dos serviços de saúde, índices sociais e de renda, a presença dos centenários exige um esforço maior. Em geral, estilo de vida, alimentação e ausência das agruras das grandes cidades são fatores que melhor explicam os números. O médico Alexandre Kalache, um dos maiores especialistas em longevidade do País, explica que viver em grandes centros urbanos, mesmo com conforto e acesso a bens materiais, pode ser mais prejudicial que levar uma vida simples, pobre - “não miserável” - em áreas isoladas ou rurais.
“Quem tem uma vida modesta possui menos dinheiro para fumar, para beber, come de forma razoavelmente simples, pouco e bem, sem excessos de gordura, por exemplo. No campo, ainda faz mais atividade físicas”, diz Kalache, consultor sênior da Academia de Medicina de Nova York e ex-chefe do Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo ele, os problemas do cotidiano das cidades custam caro a quem pretende completar uma centena de anos - além da violência urbana, contam negativamente o trânsito, o estresse e a poluição. “Não é só o estresse acumulado, mas também o tipo de estresse e a forma como as pessoas respondem a ele”, afirma o especialista.
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