1 de mar. de 2015

Pesquisa revela menores índices de fragilidade na velhice

Quanto menor o nível educacional, pior é o desenvolvimento cognitivo e o estado físico do indivíduo.  E quanto maior a reserva neurológica – obtida por meio leitura, jogos e até mesmo palavras cruzadas, que ajudam a aumentar a atividade cerebral e a formar conexões neuronais – menor é a chance de demência. 

Este é o resultado das primeiras fases do projeto Fragilidade em Idosos Brasileiros (Fibra), realizado no Rio de Janeiro, e coordenado por Roberto Alves Lourenço, da FAPERJ. 


Países em desenvolvimento, como o Brasil, estão vendo crescer a expectativa de vida de sua população, que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), subiu de 71,9 para 74,9 anos entre 2003 e 2013. “Estamos vivendo um processo de envelhecimento populacional importante, que tem sido muito acelerado no País”, afirma Roberto Alves Lourenço, geriatra e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Mas se, por um lado, a população vive mais, por outro, esse processo faz aumentar a incidência das doenças associadas ao envelhecimento. Observando isso, o projeto Fragilidade em Idosos Brasileiros (Fibra), realizado em todo o território nacional e coordenado por Lourenço no Rio de Janeiro, procura analisar como anda a saúde dos idosos fluminenses. Para isso, ele contou com subsídios do programa de Apoio a Projetos de Extensão e Pesquisa (ExtPesq), da FAPERJ.  “Envelhecer significa perder reserva funcional, massa muscular e agilidade. 

O envelhecimento começa aos 40 anos e geralmente por volta dos 65 anos, essa perda de reserva já percorreu um caminho importante”, explica. Por isso mesmo, o Fibra promove avaliações clínicas para que se consiga perceber os quadros de fragilidade antes mesmo que eles se manifestem. Para isso, o Fibra, que está sendo desenvolvido no Serviço de Geriatria Professor Mario A. Sayeg, da Policlínica Piquet Carneiro, da Uerj, analisa três fatores relacionados ao envelhecimento: prevalência da fragilidade e dos seus fatores associados; prevalência da demência e de seus fatores associados; e prevalência da perda de massa muscular e de seus fatores associados.  

No Rio de Janeiro, foram avaliados pelo projeto 847 voluntários, acima de 65 anos, residentes da Zona Norte, escolhidos aleatoriamente pela equipe. Na primeira fase da pesquisa, realizada em 2009, os médicos visitaram cada um dos selecionados e os submeteram a um questionário para avaliar-lhes a aptidão mental e a alguns testes físicos, como o de velocidade de marcha. “Nesse teste, o idoso teria que caminhar 4,6 metros, com o tempo cronometrado. Assim como o teste de força de pressão manual, em que se mede a força do indivíduo num aparelho chamado dinamômetro, a média de velocidade alcançada pode servir como indicador de importantes desfechos de saúde para o indivíduo”, explica Lourenço. E acrescenta: “Da mesma forma, quanto mais lenta e mais fraca a pressão manual, maiores são as chances de cair, de ser internado, e maiores os índices de mortalidade.” 

De acordo com o resultado dos testes, o pesquisador e sua equipe indicaram aos idosos mais frágeis uma dieta rica em proteínas e aminoácidos e exercícios físicos para o fortalecimento muscular. “Nunca é tarde para a prática de exercícios; na velhice, eles são imprescindíveis para a saúde.” Nessa primeira fase, também foi avaliada a funcionalidade, ou seja, a capacidade de o idoso se alimentar sozinho, se locomover e realizar atividades corriqueiras no dia a dia. 

O resultado dessa primeira fase indicou que o índice de prevalência de fragilidade física entre o grupo estudado foi de 9,2% e que esse índice está associado à escolaridade; quanto menor o nível educacional, pior é o desenvolvimento cognitivo e o estado físico do indivíduo. “Isso acontece porque esse baixo nível educacional geralmente está associado a piores condições socioeconômicas, a piores condições de moradia, de trabalho, de alimentação e à falta de tempo para a prática de exercícios físicos.” 

A segunda fase do teste, realizada em 2011 na mesma clínica da Uerj, analisou a prevalência de demência no grupo selecionado. Testes cognitivos complexos, avaliados por neuropsicólogos e geriatras, analisaram o estado mental dos voluntários. No resultado, 16,9% dos idosos mais velhos e com menor escolaridade apresentaram pior desempenho. “Uma das hipóteses é que quanto maior a reserva neurológica – obtida por meio de estímulos culturais, como leitura, jogos e até mesmo palavras cruzadas, que ajudam a aumentar a atividade cerebral e a formar conexões neuronais – menor é a chance de demência. A interação social também ajuda muito”, acrescenta o pesquisador. 

Os resultados da terceira fase do teste, para avaliação de perda de massa muscular, realizada em 2014, serão divulgados em meados de 2015, em dissertações de mestrado, teses de doutorado e em artigos de importantes revistas científicas, nacionais e internacionais. “Esperamos que o conhecimento proporcionado pelos resultados de nosso projeto de alguma forma contribua para que o aumento da expectativa de vida seja acompanhado de qualidade de vida, com índices de fragilidade cada vez menores”, finaliza Lourenço.


Um comentário:

Danillo Caldas disse...

Muito interessante essa pesquisa do Prof. Roberto Alves Lourenço. Observo muito isso no dia a dia com os pacientes que atendo. Fico no aguardo para o resultado da terceira fase do teste. Parabéns Prof. Roberto Alves Lourenço!